TBC-REDE: Turismo de Base Comunitária pelo Brasil e pelo Mundo

JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

    Os eixos de integração ensino-pesquisa-extensão universitária, que transcendem esta página virtual, buscam situar, no campo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a complexa construção interdisciplinar de significados, lógicas e práticas do Turismo de Base Comunitária ou Turismo Comunitário no Brasil e no mundo. Assim, esta se apresenta como uma ferramenta virtual de interação, comunicação e consulta para todos os interessados pelo tema.

    As iniciativas de turismo de base comunitária no Brasil, bem como na América Latina, África e Ásia apontam para um novo paradigma de turismo na atualidade. Nessas iniciativas, atores sociais de diversos núcleos turísticos têm se inserido de forma mais efetiva em atividades ligadas ao planejamento, à execução, ao monitoramento e à gestão das atividades turísticas, conseguindo assim gerar renda complementar e desenvolvimento socioeconômico. Essas iniciativas vêm resistindo ao modelo neoliberal e a mega-projetos turísticos que, muitas vezes, negligenciam as necessidades dos atores locais e a vulnerabilidade da condição socioambiental. No cenário brasileiro, muitos projetos de turismo de base comunitária têm sua concepção e implantação, principalmente, em lugares com grande riqueza ecossistêmica, onde grupos sociais vivem economicamente, essencialmente, de atividades produtivas tradicionais. No entanto, estes grupos perceberam o potencial do lugar em que moram como destino turístico e decidiram se inserir na atividade de forma diferenciada. Este diferencial é representado por um modelo de turismo onde é possibilitada a oportunidade de diversos atores sociais participarem de forma mais efetiva no planejamento, implementação e gestão do turismo, cuja maior parte dos benefícios gerados é destinada à própria comunidade.



Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé (Manaus, Amazonas), 2013. (Moraes, 2013).




O cerco de pesca e pescadores, Trindade (Paraty, Rio de Janeiro), 2016. (Arquivo do Projeto: Mapeamento do turismo de base comunitária no Estado do Rio de Janeiro: cidade do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Paraty, 2016).




Aldeia Guarani Mbya Araponga (Paraty, Rio de Janeiro), 2016. (Arquivo do Projeto: Mapeamento do turismo de base comunitária no Estado do Rio de Janeiro: cidade do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Paraty, 2015-2016).




10ª Assembleia Anual da Rede Cearense de Turismo Comunitário, Comunidade de Tatajuba (Camocim, Ceará), 2016. (Moraes, 2019).


    Muitos casos ilustrativos dessa proposta de turismo estão localizados em regiões contextualizadas por um intenso processo de urbanização e especulação imobiliária motivada pela indústria de lazer e turismo, que transformou o espaço litorâneo em mercadoria para exploração, consumo e em um dos maiores produtos econômicos do país. No contexto de valorização do litoral incentivada pelo turismo, verifica-se que as imposições dominantes obrigaram diversos grupos sociais a se organizarem dentro de um cenário caracterizado por um processo de resistência e pela busca de novos modelos locais de desenvolvimento, tendo o turismo como uma relevante atividade econômica.



Dona Marilda e a Exposição Passados e Presentes, Quilombo Santa Rita do Bracui (Angra dos Reis, Rio de Janeiro). (Arquivo do Projeto: Mapeamento do turismo de base comunitária no Estado do Rio de Janeiro: cidade do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Paraty, 2015-2016).


    Assim, destaca-se que muitas iniciativas de turismo de base comunitária em território brasileiro, assim como na América Latina, estão ligadas a um movimento político-social direcionado à reivindicação pela posse da terra, pela permanência no lugar onde nasceram e vivem, pelo direito à moradia, pelo direito ao local herdado, contra grilagem de terras, entre outros. Por essa razão, o turismo de base comunitária, entendido como um movimento político e social, tem se organizado, sobretudo, em forma de redes nacionais e latino-americanas. Nesse processo, coloca-se ainda em relevo, o surgimento desse fenômeno em regiões agrícolas, pesqueiras e extrativistas, muitas delas marcadas por atividades econômicas tradicionais, e, mais recentemente, começa a se fazer presente no meio urbano, como pode ser ilustrado pelas novas propostas de turismo em algumas favelas da cidade do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) e no centro urbano de Salvador (Bahia).



Brazilidade – Turismo de Base na Favela, Favela Santa Marta, Botafogo (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro), 2015. (Arquivo do Projeto: Mapeamento do turismo de base comunitária no Estado do Rio de Janeiro: cidade do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Paraty, 2015-2016).




Turismo Comunitário e Economia Solidária, Plata-Tour, Plataforma (Salvador, Bahia), 2018. Autor: Elisa Spampinato, 2018.


(*) Texto adaptado das reflexões publicadas no artigo MENDONÇA, T. C. de M; MORAES, E. A. Reflexões emergentes sobre Turismo de Base Comunitária, à luz da experiência no “Paraíso Proibido”: Vila do Aventureiro - Ilha Grande - Brasil. In: Revista Turismo & Desenvolvimento. vol.2, n. 17/18, 2012. P. 1169-1183. Disponível em http://revistas.ua.pt/index.php/rtd/article/view/9353/7694